segunda-feira, abril 30, 2007

Cromos Nacionais #1 - Odete Santos


Num país tão rico em matéria de cromos, a deputada, actriz, comentadora política e técnica de manutenção da qualidade dos vinhos de Fiães, Odete Santos, é uma figura em pleno destaque. A Odete é daquelas pessoas que, por tudo aquilo que representam, são tomadas como Role Model, daí os portugueses inspirarem-se tanto nela. Aliás, não é raro encontrar-mos alguém na rua a tentar imitar a sua doce pronúncia. Principalmente quando já se está bêbado.

O percurso para chegar onde chegou, porém, não foi fácil: Saltou do anonimato para o garrafão de Tintol; do garrafão de Tintol para o consultório do Professor Karamba; do consutório do tão nobre Professor para o Peep Show junto à baixa lisboeta; Por fim, do Peep Show para palcos maiores:



A todos os emigrantes portugueses: é por estas e por outras que mais valia terem ficado por cá.

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quinta-feira, abril 26, 2007

Um Superdotado Por Dia, Nem Sabe o Bem Que Lhe Fazia



“Um superdotado por dia, nem sabe o bem que lhe fazia”... Infelizmente, este parece ser o principal moto da maioria dos pedo-psicológos que se encontram um pouco por aí. Não que pessoalmente duvide da existência de crianças que realmente possuem habilidades e conhecimentos acima da respectiva faixa etária. Mas a verdade é que não é preciso muito (além do cheque charudo a pagar no final do mês), para levar o nosso filho a uma consulta e ficarmos repentinamente maravilhados por saber que temos um filho superior á média!

Torna-se curioso observar o quanto é fashion ir a um evento social qualquer, com familiares ou pais de outras crianças e, entre uma garfada no bife e um golo de vinho, comentar (assim como quem não quer a coisa)que afinal o filho é inteligentissimo! A partir dai não é preciso referir mais nada, com a certeza que no final da festa a história já chegou a todos os ouvidos.

O miúdo, que antes nem recebia assim tanta atenção, vê-se subitamente subterrado de prendas e incentivos. Apesar de se aperceber que existe algo de diferente na reacção das pessoas, também não se esforça muito para aprofundar a questão. Afinal quem ganha neste processo todo é a criança, cheia de mimo... E os pais, com um ar pateticamente esperançados, aguardam o dia que incautamente vão acordar o seu filho e se deparem surpreendidos com o robot da mais alta tecnologia que o rapaz acabou de construir sozinho, a partir de um power ranger, um arena de beyblade e uma almofada ortopédica.

Enquanto isso, o psicólogo lança a sua gargalhada maquiavélica e conta (metaforicamente claro) um maço de notas acabadinhas se chegar. Afinal de contas (relembra ele ao declarar aos pais), ter um filho superdotado envolve muita responsabilidade e é necessário bastante acompanhamento médico para garantir que os preciosos dotes do rapaz são bem empregues...

Curiosamente, este mesmo psicológo não foi capaz de referir aos pais em como o teste de QI que realizou na criança está actualmente obsoleto. Nem abordou a questão dos inventores iniciais do teste de QI terem inicialmente criado o teste para um conjunto de estudantes, tentando determinada uma relação com os resultados da prova e a baixa produtividade escolar, e não como um teste que seja dirigido para uma população em geral (e muito menos a crianças).

Para os pais que desesperam ver os seus filhos a desistir das escola aos 15 anos, para aqueles pais que puxam os cabelos em desespero por não conseguírem impedir que os seus filhos vejam a “geração rebelde”, ou ainda para os pais que colocam tampões nos ouvidos á noite, para não conseguir dormir ao som dos Kizombas provindos do quarto dos filhos, eis o remédio santo: porque não os levam a um psicólogo?

Depressa chegam á conclusão que é um desperdício de inteligência ver o filho a grelhar hamburgers no Mac Donald’s. Afinal, ele apenas não entrou em Medicina por modéstia e para não envergonhar os colegas da turma com notas tão soberbas... Estão professores e auxiliares educativos a torrar os miolos a procurar um melhor sistema educativo que permita mais rendimento escolar aos alunos, quando há quem já tenha encontrado a solução a uma distância tão pequena... a distância de um cheque!

É que afinal, só não é génio quem não quer...

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quarta-feira, abril 25, 2007

Descubra as Diferenças #1

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domingo, abril 22, 2007

O Império Satânico da Disney


Certo dia deparei-me com um certo vídeo no qual um senhor, conhecido como Pastor Josué Yrion, dava uma calorosa palestra a uma plateia que, como que escutando o próprio Messias, bebia emocionadamente as suas palavras. Esse orador, o tal Pastor Josué Yrion, acusava em frenesim o elevado nível de bruxaria, satanismo, pornografia e espiritismo invocados pelos filmes da Walt Disney (essa mesmo que tanto nos emocionou enquanto crianças). A primeira coisa que pensei foi em como é que um pastor consegue ter leitor de VHS para a assistir aos citados filmes. Embora tenha, em tempos, acreditado no contrário, o ânus da ovelha não serve para tal efeito. Só depois dei conta que “Pastor” tem funções semelhantes às de um padre, mas deixemo-nos de devaneios.

Numa entrada triunfal, o Pastor Josué Yrion acusa o filme “A Pequena Sereia” de ser uma referência ao cinema para adultos. As imagens não enganam:



Aliás, tenho que dar o braço a torcer. Lembro-me de ter os meus quatro anos e de, após quatro horas seguidas a olhar para a capa, ter dito ao meu pai que “este mangalho é bastante parecido ao do Nacho Vidal, naquele filme em que ele faz aquela brutal cena com a Sílvia Saint no Ferrari descapotável”. Para além desta imagem, o Pastor Yrion volta a rematar:

«De trás da música “Kiss The Girl”, há um grupo jamaicano que fala palavras africanas para amaldiçoar quem assiste ao filme».

Sobre isto tenho que discordar: É certo que o Pastor Yrion é um excelente Afrikaans speaker, porém, ao contrário do que ele entendeu, os jamaicanos não dizem “bagla bigla bogla” (“estou a amaldiçoar-vos”) mas sim “bogla bigla begla” (“apetece-me imenso um copo de leite morninho”). Mas todos temos o direito de errar.

Ao longo da palestra, o Pastor Yrion continua o seu ataque à Disney. Gostaria de destacar algumas das suas frases:

«Pocahontas é uma palavra indígena que significa “espírito do abismo”. Quando dizemos “Pocahontas”, estamos a chamar o diabo».

Quanto a vocês não sei, mas eu cá costumo dizer “ó Diabo, vem lá aqui se faz favor!”. Da única vez que gritei “Pocahontas” para o chamar, ele ficou em casa a jogar dominó.

«O Rei Leão é o filme mais sujo, mais perverso e mais carregado de violência que alguma vez existiu. As crianças que assistem hoje ao Rei Leão são os assassinos de amanhã».

Mais uma vez mais ele está correcto. Só hoje já foram quatro moscas e três plantinhas que pisei. E só não matei aquele mosquito irritante porque nunca mais o vi por estes lados. Deve ter fugido para a URSS.

«Quando o Rei Leão bate com as patas no chão, as partículas do pó formam a palavra “SEX”».



Escandaloso. Isto é fazer troça do trabalho dos professores de Língua Portuguesa deste país. Estar a deitar abaixo o estudo da nossa língua ensinando a palavra “seis” em alemão é deplorável.

Meus senhores, acabemos com este flagelo que corrompe a mente das nossas crianças! Basta! Compremos imediatamente os DVD’s dos Chuck Norris, ensinemos os nossos filhos a plantar Cannabis, obriguemos a que assistam diariamente ao Canal 18! Sempre é mais educativo do que a Disney…

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sábado, abril 21, 2007

Apresentação

Tolo é aquele que nunca ouviu, nem que seja por breves instantes, a voz da sua consciência. Mas maior tolo ainda é aquele que se deixa escravizar e subjugar á sua vontade, prisioneiros levados não por corrente mas sim por o seu tom falsamente cauteloso e prudente.

Se já é difícil para um individuo comum encontrar o equilíbrio entre estes dois pontos em situações normais, torna-se excepcionalmente fácil conduzir alguém ao mais simples conceito de demência e loucura quando nós, as vozes, somos mais que uma.

Cada uma de nós tem muito para contar. Numa sucessão de flashes a alta velocidade, transmitimos de uma só vez todas as nossas experiências, vivências, cheiros, memórias, emoções e todo o tipo de sensações ao nosso portador, de tal maneira que este depressa entra em choque pela enorme descarga de informação e entra num irreversível processo de morte cerebral.

Pelo menos é essa a explicações cientifica que inúmeros psicanalistas dão... Até estabelecerem uma única tese que explique os estranhos fenómenos por eles observados, o caso continuara em segredo do público geral, num dossier qualquer perdido dentro das catacumbas de papel que o Estado chama de Arquivo.

Até lá, enquanto doutores procuraram atingir uma explicação lógica e plausível, a verdadeira realidade continuará escondida debaixo dos seus narizes. Incapazes de olhar directamente para a fonte do problema, nunca sequer chegaram à óbvia conclusão que o paciente não esteve sequer verdadeiramente doente. Nós, as vozes, apenas mostramos as vantagens de ser diferente, as vantagens de impor a nossa opinião contra as massas, as vantagens de poder ambicionar o que parece inatingível, as vantagens de ser louco...

“Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?”

Fernando Pessoa, em “A Mensagem”

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